O Fórum dos Festivais está em mobilização nacional para exigir o reconhecimento do setor de mostras e festivais de cinema e audiovisual como elo essencial da cadeia produtiva cultural brasileira.
Mesmo com sua comprovada relevância para a formação de público, difusão de obras brasileiras independentes e promoção da diversidade, o setor segue invisibilizado nos planejamentos e investimentos públicos nacionais, o que motivou o envio, em 2 de outubro de 2025, de uma carta oficial ao Conselho Superior de Cinema (CSC), solicitando medidas urgentes.
Um setor estruturante e ignorado
O Fórum dos Festivais completou 25 anos em 2025 como a única associação juridicamente constituída no Brasil que representa o setor de mostras e festivais de cinema e audiovisual. São mais de 500 eventos realizados em todas as regiões do país e no exterior, reunindo desde pequenas mostras independentes a grandes eventos internacionais.
Esses eventos se diferenciam de outras formas de difusão (como salas comerciais, plataformas de streaming e cineclubes) porque abrem inscrições anualmente para obras brasileiras e internacionais, promovendo a circulação de filmes inéditos, recentes ou de repertório, além de ações de formação, crítica, oficinas, mercados e atividades de impacto socioeconômico nos territórios onde ocorrem.
Segundo dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), e do último Plano de Diretrizes e Metas (PDM), muitos filmes brasileiros têm mais público em festivais do que em salas comerciais. Sem mostras e festivais, o cinema brasileiro perde visibilidade, penetração de mercado e formação de novas audiências.
Apesar disso, o setor ficou de fora do Plano Anual de Investimento (PAI) 2025 da ANCINE e também da pauta de deliberação do biênio 2025–2027 do Conselho Superior de Cinema (CSC). A omissão contraria o histórico de participação do Fórum no próprio CSC, onde esteve presente com representação ativa nos últimos anos.
Diálogo esgotado: o cinema pede passagem
Desde 2023, o Fórum dos Festivais tem participado de reuniões com a Secretaria do Audiovisual (SAV), o Ministério da Cultura, a presidência da ANCINE e membros do Comitê Gestor do FSA. Embora diversas promessas e acenos positivos tenham sido feitos, nenhuma política pública concreta foi implementada até o momento.
Em abril de 2024, o Fórum enviou ofício propondo um modelo de financiamento retornável via FSA, sugerindo que 3% do PAI da ANCINE fosse destinado a uma nova linha de apoio para festivais e eventos de mercado. Essa proposta também não obteve resposta.
Diante disso, a frustração e a insatisfação se tornam inevitáveis. Um setor historicamente protagonista na difusão da cinematografia nacional segue sendo tratado com descaso, sem previsão orçamentária, sem lugar nos debates estratégicos e, sobretudo, sem políticas de Estado permanentes.
O que reivindicamos
Na carta enviada ao CSC e aos diversos representantes ministeriais, o Fórum dos Festivais lista propostas objetivas para o reconhecimento e fortalecimento do setor:
- Retomada imediata da Política de Apoio a Mostras, Festivais e Eventos de Mercado com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), nos moldes da linha criada em 2018 (Edital SAV MinC nº 11/2018).
- Criação de investimentos diretos com participação de empresas estatais, via editais específicos (prometidos pela SAV desde 2023 e não lançados até hoje).
- Inclusão do setor de Mostras e Festivais no Plano de Diretrizes e Metas (PDM) do CSC e no cronograma de reuniões do biênio 2025–2027.
- Apoio técnico e institucional para a realização de um diagnóstico socioeconômico nacional sobre o setor, com vistas à formulação de políticas públicas condizentes com seu impacto.
- Reconhecimento da importância dos festivais como instrumentos estratégicos de formação de público, descentralização cultural e circulação de obras.
- Fomento à diversidade temática, regional, racial, de gênero e estética, com apoio também à experimentação de novas linguagens e formatos, como VR, games e experiências imersivas.
Sem festivais, não há cinema vivo
O Fórum dos Festivais reitera: sem fomento à difusão, não há mercado sustentável para o cinema brasileiro. Festivais e mostras são onde os filmes nascem para o público, onde o debate se amplia, e onde se forma a memória e o futuro do nosso audiovisual.
É preciso garantir que o setor esteja incluído nas decisões estratégicas do Estado brasileiro. E é preciso garantir, com urgência, fomento estruturado, descentralizado e contínuo, sob risco de colapso de toda uma rede de eventos que cumpre papel central na preservação, renovação e democratização do audiovisual nacional.
A cultura não pode esperar.
O cinema pede passagem.
Leia a carta na íntegra:
https://drive.google.com/file/d/13xrewn9NGk3Q6s1UeL6XqZ_adBYDnu7V/view?usp=sharing
Materiais da campanha:
https://drive.google.com/drive/folders/1M1DtvZxbCznmi5_hB6Z0enpCubw7hgIL?usp=drive_link